Nunca pensei,
em toda minha vida,
que seria tão difícil
ser menina.
Não sabia que me curvaria,
desde pequena,
a estereótipos tão infantis
Me atrevo, até mesmo, a dizer,
tão... senis
Nunca considerei
que eu deveria escolher
entre minha roupa de super heroína
e entre ser mais... "feminina",
nesta sociedade desajustada
em que fazemos nossa morada
Nunca pensei,
em toda minha vida,
que seria tão difícil transitar
de menina para mulher,
em um simples dilúvio tingido de carmim.
E ainda receber pesos
que ficam para a vida toda
e que, sem permissão,
se instalam em mim.
Aceitar-me como sou?
Que nada!
A moda é diminuir, alisar,
cortar, tirar, ser minimalista
"O menos é mais"
Numa sociedade tão... machista.
Nunca pensei que ser menina
fosse, tão ainda,
motivo de vergonha
Uma vida baseada na clausura
com medo
de andar pela rua escura
Rezando para que levem
apenas o que eu posso recuperar
Nunca pensei que ser mulher
ou menina
fosse uma sina ou um fardo
tão... pesado, assim como a cruz
que carregou Jesus.
É ainda pior: é ser Atlas e carregar,
nas costas, o mundo.
É cegar-se, ser surda e sem voz
quando, ainda assim, se ouve e se vê.
É ser criticada por se rebelar,
julgada por se aceitar,
apedrejada por... pensar.
Por pensar que, um dia,
as meninas
poderão ser o que quiser.
Que minhas irmãs, primas,
netas, afilhadas ou filhas
não viverão
todo o machismo e a opressão
que vivi um dia.
Por pensar que,
pela primeira vez, em séculos,
não precisaremos ser tão... feministas.
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