Quadro

Se o meu corpo é arte
Meu sangue é como uma tinta que passa por minhas veias
E a cada pulsação
Me empurro a tentar algo novo
Eu crio e me recrio por segundo
Eu sinto
E meu corpo é um reflexo do mundo

Se meu corpo é arte
As minhas pernas são como os pincéis que desenham direções infinitas que tendem a se entrelaçar
E a cada passo que eu dou
Eu busco intensidade para não esquecer por onde passei
E eu não uso borracha, pois me orgulho também dos momentos que errei

Se o meu corpo é arte
Então tudo dentro de mim fala alto
Eu transbordo e grito para que em algum lugar alguém vá me escutar
E entender com o sentir e o olhar
Que vivemos pra compartilhar

Se o meu corpo é arte
Eu não posso me calar
Porque mesmo que eu viva no silêncio
Dentro de mim, a tinta não vai esgotar.

Não é uma coisa exclusivamente minha querer fazer isso, mas é algo que eu vi um monte de gente fazer no Facebook. Depois que a @poxanine fez o dela (que ficou lindo, aliás, até chorei - o link redireciona para o dela), resolvi fazer o meu porque, além dos textos, eu estava sem assunto para por aqui (por mais que eu tenha uma quantidade diminuta de leitores).

Vamos lá:

Oi, Gabi de 10 anos, tudo bem? Olha, acho que já começo esse post dando à você meus sentimentos: seu avô por parte de mãe foi embora cedo, né? Eu também acho. Eu sei que você queria do fundo de seu coração que ele tivesse ficado para te ver se formar na faculdade, se casar ou até mesmo ter filhos, não é mesmo?

Infeliz... não, felizmente, estamos nesse mundo só de passagem e você só vai entender que a vida é tão efêmera quanto um sopro quando aprender a valorizar cada pequeno momento que você passa com alguém, até com você mesma, imersa em pensamentos e crises existenciais.

Vamos falar de certas coisas que você não vai querer ouvir de você mesma adulta - os defeitos que você vai perceber ter ao longo do tempo e o que você pode fazer para melhorar como ser humano, para ser menos tóxica para si mesma.

O primeiro é: você é autossuficiente, mas ainda não é dona de si. Você tem muito a aprender ainda, jovem Padawan, vai por mim. Você não é dona da razão e não é sempre que você vai estar certa, viu? Ouça às pessoas a sua volta, com ênfase na sua mãe, principalmente a sua mãe. Ela está te construindo como uma mulher durona, forte e independente (sim, há uma enorme diferença entre "autossuficiência" e "independência" que você vai entender logo), mas sem perder a sensibilidade e a empatia, sempre te fazendo se colocar no lugar do outro.

Quer uma dica? Não tenta mentir para sua mãe, eu falo sério. Você sempre vai acabar falando a verdade, é mais fácil falar de uma vez, pra evitar a fatiga e eventuais castigos.

Aqui vão os defeitos 2 e 3: você acaba sendo bem arrogante às vezes. Sem intenção, sem perceber, sem... nada. Você se empolga em alguns assuntos e, para as outras pessoas, acaba soando arrogante, prepotente e esnobe (não revira os olhos, pô! Eu falo sério). Não, eu não estou falando para você se fingir de burra na frente dos outros e esconder tudo o que você sabe. Só dá uma segurada na emoção na hora de falar sobre qualquer coisa, ouvir com atenção às outras pessoas é muito importante. O que nos leva ao item 3: você é muito teimosa e orgulhosa. Quando te derem um caminho mais fácil e prático, siga ele pra não passar raiva e aceite a ajuda de quem te quer bem (a não ser que te mandem seguir determinada profissão ou te digam para fazer concurso público, aí pode entrar por um ouvido e sair pelo outro, ok? Você ainda vai ouvir muito isso.).

Agora vamos pra parte mais decente da coisa: as orientações. Mesmo sendo mais velha que você, confesso que não sou a melhor pessoa com conselhos e palavras de incentivo, mas vou tentar: em quatro anos, você vai encontrar um dom, uma vocação, mesmo que de um jeito torto. Escrever vai se tornar um passatempo e é isso que você vai escolher para fazer, mesmo que a grana seja curta. However, você vai amar o que vai fazer, porque é o que você gosta de verdade (muito mais do que Direito, devo acrescentar. Esse sonho é da sua mãe, não seu). Aqui, em 2017, por mais que você seja a rainha da procrastinação, você vai ter diversas ideias excelentes e que precisam ser bem trabalhadas pra dar certo e você realizar o sonho de estar à altura de Rick Riordan e J.K. Rowling.

Em 2017, você ainda não chegou lá, mas vai chegar algum dia (que até eu espero que esteja perto). O alicerce é exponencialmente mais importante do que o topo. Continue escrevendo com calma e qualidade, anote cada uma de suas ideias mirabolantes: você vai dominar o mundo com elas e vai sempre revisitá-las para adaptar cada uma a algo cada vez melhor e mais bonito, você vai sempre escrever com um propósito, lembre-se disso.

Há certas pessoas que vão fazer com que você desacredite do seu potencial e que, principalmente, vão te deixar de lado quando perderem o controle sobre você. Faça um favor a si mesma e deixe essas pessoas de lado assim que perceber que, aparentemente, você não faz mais falta à elas. Foca em quem te apoia, ok?

Outra coisa: você vai encarar uma estrada longa e tortuosa quando o assunto for a auto aceitação. Bom, você está saindo dela ainda. Mas entenda que você precisa se amar e muito! Entenda uma coisa, Gabi: seu cabelo não é de vassoura, é lindo! Demorei muito tempo para aceitar que "eu nasci com o cabelo enroladinho, com um monte de cachinho na cachola..." (não sei se você entendeu a referência, espero que sim) e isso me causou várias ficadas em cima do muro quando o assunto foi mudar e ser diferente. Não tem nada de errado com a sua altura, você vai ser sempre baixinha mesmo. Seu corpo ainda vai mudar muito e; não por estética, mais por saúde mesmo: faça exercícios físicos e para de comer besteira sempre que pode, sério. Você não vai se arrepender.

Sobre vida amorosa? Bom, não tenho muito o que dizer. Você vai amar muito alguém a ponto de deixá-lo ir porque não consegue dar o amor que essa pessoa verdadeiramente merece e essa pode ser a pior burrada emocional da sua vida. Vai conhecer outro alguém que vai ser o real exemplo do que não ser e vai te ensinar a não se contentar com o pouco que ele foi, por mais que parecesse muito quando a paixão adolescente te cegou por pouco mais de seis meses. Porém, você vai estar mais forte e mais esperta com relação à isso, não se preocupa: ainda não surgiu nenhuma experiência tão intensa que valha a pena contar.

Acho que é só isso, e tenho mais uma pequena dica para acrescentar: a sua cabeça é seu guia. Você tem uma cabeça muito boa para se deixar contaminar por coisas ruins.

Talvez eu volte daqui não sei quanto tempo para te falar o que está acontecendo. Não sei quanto tempo, confesso. Mas te desejo toda a sorte do mundo na sua jornada, viu?

Abraços da Gabi de (quase) 20 anos.

Eu não sou a melhor pessoa para aconselhar sobre relacionamentos. Tive apenas dois que não duraram tanto, mas aprendi algo com ambos: nunca aceite menos do que merece por se sentir sozinho e ter medo deste sentimento. Sério.

Meu pior medo dentro de um relacionamento é me resignar e aceitar menos do que eu mereço por medo da solidão.

Na vida, não tem isso de "solteiro sim, sozinho nunca". Se engana quem acha que tem. As pessoas são o centro de seu próprio mundo e é essa individualidade, por mais que seja muito boa às vezes, pode não ser eficaz quando, de repente, não nos bastamos para nós mesmos.

As pessoas costumam dizer a mim que eu sou muito autossuficiente e esse é um adjetivo muito perigoso. Mais perigoso, até mesmo,  do que adjetivos ruins como "ganancioso" ou "egoísta". Estes, pelo menos, têm apenas o lado pejorativo. Dependendo de como é colocada e de quando é usada, a palavra "autossuficiente" e seus derivados podem ser uma ofensa.

"Você se acha autossuficiente! Você acha que se basta!" Não acho que eu tenha sido a única pessoa no mundo que já escutou estas frases ou algo parecido. A questão aqui não é se achar autossuficiente, toda essa divagação vai além disso: eu não sou autossuficiente por achar que eu me basto, pois sei que em alguns pontos isso é mentira.

A verdade é que eu sou autossuficiente não só pelo medo de aceitar qualquer coisa, mas também pelo medo de complementar alguém incompleto, pelo medo de mendigar afeto e ter de amar em dobro, também.

Sabe qual é a maior ironia, no fim de tudo? A felicidade é encontrada só por nos mesmos, nunca em duas vidas ou com duas pessoas que persigam conceitos diferentes de felicidade, mesmo que este seja um conceito mutável ao longo do tempo. A minha felicidade pode não ser a do outro e a do outro pode não ser a de quem está com outrem (pausa para um suspiro)... enfim.

É por isso que eu repito: não aceite menos do que merece por medo da solidão. O aceite do contentamento e da resignação é a chave para que seus piores medos se realizem.